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Epifania

Essa foi uma das minhas metamorfoses mais intensas. Estava sufocada em meu próprio casulo e a fechadura estava por dentro. Ninguém, além de mim mesma, poderia me salvar do meu próprio sufoco e da falta de ar. Quando o sentimento de vazio te drena por inteira e não consegues pensar mais em nada. Você quer chorar. Sim, você quer chorar, mas você não consegue e a explicação é tão ilógica que você não quer mais pensar tanto sobre isso, apenas quer sentir novamente a sensação da sua neutralidade sobre o mundo. 



Meus olhos estavam fadigados e demonstrariam rendição a qualquer momento, mas algo ainda me mantinha aqui e naquela hora eu não conseguia pensar nessa sutileza em que eu estava. Imaginei qualquer outra pessoa com liberdade e que poderia correr, gritar, chorar na hora que bem entendesse. Então, conclui, com as peças erradas, que tudo aquilo estava fora do lugar pelas minhas escolhas, atitudes e reações a diversas coisas que me transbordavam tristezas. Pude sentir meu coração efervescendo por uma resposta que já não mais existia. Senti, pela primeira vez, a sombra da morte se encaixar sobre minha própria sombra e sorrir para mim. Assustador. Não tinha mais forças. 

A minha respiração se esgotava cada vez mais, as memórias boas sumiam. Pude sentir escorrer sobre mim as poucas esperanças que me restavam, elas se alastravam por todo o meu corpo e depois se elevavam em grandes águas que desejavam me afogar. Meu espírito lutava por pensamentos que me salvassem, minha alma queria o sossego, meu coração queria uma cura. Como um corpo pode carregar tantas feridas e passar despercebido entre a multidão? Como a minha ferida não machucaria outra ferida e assim criar um ciclo de feridas após feridas sem fim? Me questionava sobre o que era viver, senão ter a capacidade de respirar e manter-se vivo. Mas me vinha sobre o que era ser vivo e o que era viver. Eu estaria viva ou vivendo? Ou estaria apenas numa vida sem saber o que era viver? 

A questão é que essa linha tênue entre estar vivo e viver é a própria essência que cada ser humano possui, a própria essência de estar vivo porque quer sentir sobre todo o seu corpo a alegria e o amor que a vida nos proporciona e a tristeza também. E, ficar vivendo, é apenas aceitar aquilo que aprisiona você. Viver é sinônimo da própria liberdade.  

Mas eu ainda estava no meu casulo. Com medo. Ansiosa. Entregue. E, então, a epifania me acertou bem no meio do peito e disse que eu era capaz de viver. O casulo se desmanchou e me deixou apenas migalhas daquele momento passado, me deixou as provas de que se pode viver entre uma metamorfose e outra.





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Comentários

  1. Arianne Barromeü in Epifania @post http://eppifania.blogspot.com.br/2014/10/epifania.html

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  2. Primeiramente: Seja bem-vinda de volta!

    Estava com saudades das suas palavras sempre tão certeiras e tão fortes. "Como um corpo pode carregar tantas feridas e passar por despercebido entre a multidão?" "me deixou as provas de que se pode viver entre uma metamorfose e outra." Muito bom te ler, depois desse tempo todo. Eu bem sei que a correria é grande, que é muita coisa pra fazer e ler e viver em tão pouco tempo, mas é bom que em meio a toda essa correria você tenha encontrado espaço pra derramar suas lindas palavras no papel. Parabéns!

    Beijão, querida.



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    Respostas
    1. May, sua lindona!
      Obrigada pelo seu carinho tão lindo pelo epifania! Apesar de toda correria, temos que abstrair nas rotinas da vida e vi que, apesar de passear e ler, blogar é algo maravilhoso. Além de ler seus textos e dos outros colegas. Ainda estou tentando encaixar direitinho durante a semana, mas é algo que eu tenho que fazer para quebrar essa monotonia chamada universidade. hahaha

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  3. Cara, que texto e tanto! Tinha um tempão que eu não vinha aqui e eu continuo me surpreendendo com seu jeito de escrever!
    "Como um corpo pode carregar tantas feridas e passar por despercebido entre a multidão?" < Minha eterna dúvida
    "O casulo se desmanchou e me deixou apenas migalhas daquele momento passado, me deixou as provas de que se pode viver entre uma metamorfose e outra."

    Vim pra avisar que eu voltei com o blog (de novo): http://www.senhoritaliberdade.blogspot.com/

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    Respostas
    1. Obrigada, Stellinda <3
      Ahh, que bom que voltou com o Senhorita! Estou retornando aos poucos também e quero muito ler os blogs que antes eu acompanhavam ferozmente. ^^

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  4. *o* ótimo texto Arianne (como sempre). Te indiquei pra um tag lá no blog.

    Blog Furgão Voador

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  5. Preciso sair do meu casulo. Beijos

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  6. Sair do casulo é doloroso e dá um medo danado! Mas não se pode fugir, a gente tem que metamorfosear....

    Texto maravilhoso!
    Beijos

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