Pular para o conteúdo principal

A porta de Ester



A tal da madrugada pode-nos trazer muitas surpresas...

Casado. Em seus olhos sentia o sofrimento da noite mal dormida, nunca o tivera visto, provavelmente era um iniciante que tinha a péssima escolha de começar com um bar vagabundo local. Quando quiser esconder-se do mundo, a primeira regra é não ir até a porta dele, acho que ele ainda não conhecia essa regra. As prostitutas sempre estão em alerta, às vezes fico impressionado com suas artimanhas. Um dia, uma dessa vida chamada Ester, me ofereceu o serviço completo pela metade do preço que era exigido por muitas ali, eu era novo cheio de vida, já deve imaginar minha resposta. Imaginei cada brincadeira que poderíamos fazer, mas ainda guardo comigo a frase dum homem, cujo nome desconheço e com ela aquela noite não existiu. Mas, isto é outra estória, hoje, aquele homem anônimo não está mais naquele bar e acredito que seus olhos estão voltados a mim. Digo, estou no lugar daquele homem e observo os iniciantes como ele observava. Ainda observava aquela alma maldita e aquela mulher ainda a insistir no acto. Pela minha experiência acreditaria que aquele homem havia sido cornado, e a coisa tinha sido séria. Talvez com o vizinho? Não não não, tantas bebidas assim, botões desatados e aquele olhar desesperançoso e perdido que ele trazia, era ainda mais pesado.
Seu melhor amigo, ou algumas mentiras de mulher. É colega, trabalho demais dá nisso.

- Um uísque. Dessa vez sem gelo, Copp. E, enquanto a garganta ardia com a bebida e acendia um cigarro para tragar. Eis que a ousadia daquela mulher me espantou. Aquele bar apenas trazia homens, bebidas e transas baratas.
- Por cinqüenta talvez... Seremos modestos. – ela insinuava.
- Deixe-me em paz! – e ele trazia outra vez a bebida para sua boca.
- Está pensando na sua mulher? Venha comigo, meus dedos não precisam de anéis...
Ele tentava ignora-la, mas até para um homem com seus princípios negar uma mulher daquela formosura era um tormento. Poderia ir com ela e descontar por uma noite todo aquele sofrimento, que eu sei, que o seu coração carregava. Seu pensamento está no questionamento da traição da sua esposa, sim eu sei. Aquela dor moída e que não poderia ser compartilhada com qualquer um. Ainda fumava meu cigarro. Ele se levantou. Pensei por um momento que ele a acompanharia, mas foi pagar sua conta. Ela o esperou. Por todo tempo o homem fingia-se distraído, mas ouvia o que ela dizia. Não só ouvia, ele meditava nas suas palavras. Ele foi embora. Ainda lembro daquele homem anônimo, não daquele, mas aquele que desvirtuou minha primeira noite com alguma prostituta dali. “Quando quiser esconder-se do mundo, a primeira regra é não ir até a porta dele” Realmente não conhecia aquela regra, mas foi nela a qual meditei a cada astúcia de Ester. Ainda lembro do seu corpo moreno e sensual, com uma curta saia preta – apenas parecia de couro – com suas couxas tão atrativas cobertas de um óleo cujo aroma ainda não decifrei. Cabelos soltos, tão ousados quanto à dona deles. E mais uma tragada.
- Porque eu sou uma cigana, você quer vir comigo? – depois de tantos anos ela ainda insistia.
- Ciganas dançam no banheiro?
- Talvez eu possa mostrar a você como elas dançam... – ela sussurrou no meu ouvido e tomei mais um gole. A primeira regra é não ir até a porta do mundo, mas quando ficamos atrás da porta? Naquela noite eu fui com a Ester. O anel ainda estava no meu dedo, ela já tinha tirado o dela há muito tempo. Ela tinha decidido ser do mundo, e eu... Bem, eu tinha decidido ser a porta do mundo de Ester.




Espero que vocês entendam que é quem aí dos personagens. É meio que uma sondagem... E esse texto possui algumas palavras que é bem distinta do que o blog sempre posta por aqui, mas este não é meu pensamento e sim o daquele homem. E este texto pode ser um pouco confuso e você pensar de primeira: Que conto mais sem noção. Mas, acredite... Este conto não pode ser tão fictício assim.

*Para edições do projeto Bloínquês.

Comentários

  1. Me fez lembrar as narrativas curtas, cruéis e mordazes de Antônio Callado.

    Parabéns pelo texto e pelo blog.


    http://sementesdevitoria.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Tipo primeiro super lindo seu blog!

    Mas não curto esse tipo de história, essas coisas de traição e tals mais muuuuuito bem escrito!
    Ainda bem q num chegaram nos finalmentes!

    E adorei as letras miudas!
    Se puder passa no meu blog tb?
    http://voandoalem.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. "A primeira regra é não ir até a porta do mundo, mas quando ficamos atrás da porta?"
    E são tantos que atrás de portas se escondem...
    Ah Arih, mais uma vez fico aqui extasiada por sua escrita que me embala do início ao final, ou melhor, do início às reticências. Porque quando chego ao fim da leitura é o que sempre imagino, que as suas histórias têm esse poder de ir além, e de continuar vivendo mesmo depois da leitura. Isso é incrível, com toda a certeza.

    Beijo grande.

    ResponderExcluir
  4. Hum. Interessante. XD
    Quando puder dá uma passada lá no meu blog:http://tennagee.blogspot.com/ . XD

    ResponderExcluir
  5. nossa, que texto , adorei

    http://cruccredo.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  6. Gente, tem alguns erros de ortografia e gramática no texto. Mil perdões! No próximo, tomarei bastante cuidado, ok? Beijos! Arih

    ResponderExcluir
  7. Nossa, e coloquei pra concorrer no BLQ; Bem, vamos na sorte \o/

    ResponderExcluir
  8. O blog é bem escrito. Torcendo para que ganhe o BLQ. Merece.

    http://boomnaweb.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  9. Arianne, faço, com toda admiração, dos teus, os meus elogios! Sua escrita inteligente e sua criatividade cativam de cara! Pra mim tem sim muita noção neste conto, mto bom! bjsss

    ResponderExcluir
  10. Arih, que personagem sedutora essa que você criou. O texto está muito interessante, uma delícia de se ler. Aliás seus textos sempre tem uma magia que cativa, que explora nossos sentimentos e deixa-os mais aflorados para o que você ressalta no conto. O sentimento que mais pulou de mim nesse, foi o de ousadia, e isso numa mulher deixa-a com uma personalidade forte e admirada.
    Uma forte concorrente hein! Mas na qual me sinto honrada em competir.

    Grande beijo;

    ResponderExcluir
  11. Li...
    Entendi...
    E...
    Amei!!!
    Há muito mais do que apenas um conto...
    Adorei!!!

    Bjs

    ResponderExcluir
  12. Eu nunca tinha tinha pensado nisso nessa coisa de "Porta do mundo" Principalmente do mundo de uma outra pessoa.

    Lindo seu texto.

    ResponderExcluir
  13. Li, mas vou ler de novo pra entender um pouco melhor.
    Só to comentando agora pra vc saber que eu vim aqui ler seus textos sempre maravilhosos!
    um beijo
    http://www.claudiaalvesinteriores.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  14. Você escreve muuito beem. *O*
    http://oicarolina.wordpress.com/

    ResponderExcluir
  15. O título do texto me chamou atenção, então tive que ler, hehe.
    Esse foi bem diferente da carta acima, um teor mais provocante e interessante, as palavras vão se confundindo na mente, mas prestando atenção dá pra entender a ideia do texto. Gostei desse também.

    Beijos =)

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente, opine, critique.

Postagens mais visitadas deste blog

Eduardo e Mônica*

Fim de tarde. Ônibus lotado. Legião Urbana. A menina ouvia sua música predileta enquanto lia seu livro predileto, o menino ouvia sua música predileta enquanto segurava sua ânsia de chegar em casa e ligar seu computador para jogar. Ela estava sentada e mergulhava dentro do seu mundo, ele estava em pé e seus dedos inquietos rebatiam o apoio do ônibus.  Sinal verde, sinal amarelo, poff... O ônibus freou e aquele mp3 velho do menino caiu sobre o livro aberto da menina. Os passageiros tentaram se recompor, mas os ouvidos da garota captaram a música daquele mp3 velhinho. O menino se desculpou, ela disse que ele não tinha culpa e sorriu. Ele não tinha jeito para sorrisos e, quando sorriu, ela notou que era verdadeiro.  O velhinho do lado da menina ficou brabo e se levantou para resmungar contra o motorista, ele não tinha nada a ver. Senta do meu lado, convidou a menina. Ela não sentiu vontade de saber tudo sobre ele naquele momento, ela só queria tentar roubar outro sorriso dele. O velhinho

O nome dela é Júlia

Vagalumes Cegos by Cícero on Grooveshark      O cheiro dela sempre estava em mim. Eu, deitado naquela minha rede barata na varanda, escutei suas batidas na porta. Como sabia que era ela? É porque ela batia sem espaço de tempo, como se estivesse fugindo da morte e ali era a salvação. Fui montando o meu sorriso que era dela e chamei de meu dengo.  Encaixei meus dedos nos dela e a puxei ao som de Cícero.   Não, isso não acontecia todos os dias e nem sempre meu humor estava naquela medida, mas esqueci de mim um pouquinho e brinquei com ela.  Dancei com ela durante alguns segundos: aqueles seus olhos fechados, corpo leve e sorriso nascendo. Ainda não disse o nome dela, não foi? O nome dela é Júlia. Júlia de 23 anos, ainda voava como criança e tinha um dom de pintar um quadro mais louco que o outro. Finalmente ela ficou sem fôlego e correu para cozinha. Escutei da sala a geladeira se abrindo e a água sendo colocada num dos copos americanos.

Numa dessas prévias de carnaval

           O dengo dela era farsa. Tudo o que eu descobri foi um sorriso de criança que se apaixonava pelos motivos errados. Amiga dos meus amigos, minha amante nas drogas. Não sei ao certo a idade que ela tinha, mas vendo pelo lado da sua irresponsabilidade e da depressão escondida por trás daquela máscara, eu arrisco uns 20. Morena, uns 1,60 de altura, leve como uma pluma (uns 44 kilos) e olhos que me revelavam tudo e ao mesmo tempo nada. Olhos que me inquietavam. Na verdade, sendo direto a esse ponto, seus olhos eram cor de mel. A encontrei quando estava sendo arrastado por um bloco e ela por outro - e, naquelas ruas do Recife, nos deparamos. Numa dessas prévias de carnaval, ela sorriu com cinismo e me puxou para o clima dela. Me fez dançar toda aquela tarde escaldante, e não cansei. Não cansei de estar perto daquela menina perdida e sem previsão de saída. Ela tinha toda aquela energia que me deixava com vontade de ficar. Uma personagem completamente perdida no mundo das fantas