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Sorriso de tinta.



"Pai, esse seu sorriso nunca se desmancha" E ele teve medo de responder. Não queria revelar que o sorriso era de tinta e saía fácil; até com lágrima desmanchava o colorido do palhaço. E, naquele quarto apertado, uma promessa se findava: Que apesar da dificuldade, uma festa chegaria e jogaria fora toda tristeza dos últimos dias. Os olhos do garoto se iluminaram e o coração do palhaço se angustiou, quis controlar a emoção e o choro daquela imensa dor.  Como dizer que teve uma infância sofrida, sem sorrisos doces e sonhos de mentiras? Agora era homem de família e não queria continuar naquela vida, queria algo melhor pro seu filho, mas era difícil, ele sabia. Era palhaço para ganhar risos e assim escondia seu rosto sem sorrisos. O dinheiro não era suficiente para uma festa de caprichos e o garoto sonhava alto por um quarto cheio de presentes.

Saiu do seu lar apressado e esqueceu-se de beijar sua mulher. Só conseguia pensar em como faria para que aquele ano tivesse presente. Tinha prometido festa grande: bolos, guloseimas e muitos mais. O que fazer meu Deus? Se perguntou perturbado e cheio de incertezas. As crianças sorrindo o apontavam, outras se assustavam gritando é o palhaço andando pela cidade procurando uma estação. E quando no coração a tristeza o inundava, eis que avistou um anúncio. 
Procuravam comediantes para festas infantis, conseguiu sorrir, era no mesmo dia do aniversário do seu filho.  
Festa de gente rica, cheia de comida e distração, apenas a mãe de família não tinha convite para essa diversão. Correu até em casa e contou um segredo pro seu filho: Tinha achado uma cidade que seria só festa e lá precisaria de muita alegria e disposição. O menino foi pintado de mini-palhaço, mas com um sorriso um pouco desbotado – a fantasia era parte da regra, o pai afirmou. Foi quando um desafio surgiu: O pai não tinha convites e tinha que convencer o homem de preto que eram palhaços da alegria, afinal, ele bloqueava a entrada para a cidade da festa. O menino disparou sorrisos e derrubou em graça aquele empecilho. Entraram contentes e seu pai sussurrou que ele já tinha ganhado o primeiro presente da vida: O poder de convencer. Ninguém percebeu os homens vindo do outro lado, afinal, estavam disfarçados. 

Misturado com as outras crianças, o filho do palhaço percebeu que a felicidade fazia sua tinta cair e assim descobriu que nem sempre se sorrir. Buscou os olhos do pai e com seus lábios agradeceu a festa de tinta – ela também acabaria e guardaria um doce pra mamãe. Olhou também para os céus e viu as bolas coloridas subindo. Parece que tudo se vai e fica só na memória, nas lembranças. Ele não queria esquecer. Descobriu a aventura de ser um palhaço e o pai atingiu a felicidade por conseguir um sonho de verdade. A noite foi indo embora, os palhaços se abraçaram e a festa foi contagiada pela magia do palhacinho. A cidade amanheceu em festa, a cidade mágica ficou na memória – o menino acordou com saudade do que passou. Descobriu o sentido do sorriso de tinta. Agora queria os presentes fossem feitos de muita alegria.  








Ps: O conto é grandinho, mas vale a pena ler. 
Pelo menos foi pra mim depois de ter terminado. 
Minha internet está horrível, blogueiros. 
Me perdoem a ausência nos blogs de vocês. 
Pra postar aqui levo minutos extensos pra carregar e atualizar. ): Um beijo pra todos! Arih. 

Comentários

  1. MANO!
    Que lindo seu texto! Simplesmente PERFEITO!

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  2. Você diz no seu perfil não saber escrever coisas bonitas, vou ter que discordar, esse texto é lindo!
    Um beijo, www.surtandoedesabafando.blogspot.com

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  3. Com certeza vále a pena a leitura. Tem todo um lado filosófico e envolvente, eu adorei! E o final foi tão fofo *-*
    Boa sorte para você na edição!

    recantodalara.blogspot.com

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  4. Oi, tudo bem?
    Gosto do que escreves!
    Vou te seguir!

    Também tenho um blog, se puderes, passa lá depois.

    escrita-fina.blogspot.com

    Até mais!

    ResponderExcluir
  5. Teu blog é lindo, bem cuidado... Parece um cômodo arejado, sabe? Aquele com as janelas abertas onde o vento vem lamber a gente.

    E bem mais importante que isso é o conteúdo. Gosto, assim como você, de desandar a escrever. Quando vi já está uma coisa enorme... Rsrs.

    E essa sua coisa enorme está uma delícia de leitura.

    Boa tarde.
    Beijo!

    ResponderExcluir
  6. Um conto que se toca em poesia! Emoção misturada com alegria... Está perfeito demais, Arih.

    ResponderExcluir
  7. Ah... Arih!
    Você ainda pergunta? Claro que pode usar a poesia para resenhar, seria uma honra pra mim!

    Enquanto a esse conto, estar uma coisa linda de se ler! A doçura em meio as coisas amargas da vida, a cumplicidade de pai e filho... O amor sempre se sobressaindo em meio ao caos. Muito bonito mesmo!
    Estava com saudades daqui...

    Beijos e volto.

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  8. @Milene Lima
    Ah, que linda! Obrigada, viu? Adoro essa sensação do cômodo arejado. ^^

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  9. @Jaynne Santos/ Júnior Vaz
    Jay, será o próximo que irei resenhar! Será uma honra pra mim, isso sim! *-*

    E eu estava com saudade da sua presença... Sempre é cativante.

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  10. legal, gostei mesmo viu....sorrisos nunca morrem.

    http://guilg7.blogspot.com/

    vlw..

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  11. Porra Arih, que conto mais lindo! *-* Como tudo que você escreve, aliás ;) Tô meio ausente, mas sempre passo por aqui quando vejo uma atualização, viu? Beijos, não suma mais.

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  12. Lindo texto Ari, disparou entre os melhores! Ficou incrível, com uma moral super bonita.

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