Pular para o conteúdo principal

Desabafo #I

Já presenciei muitas gerações, Terra. Já quis sonhos impossíveis.  E você mesma se encarregou de destruí-los... O quê? Formos nós? Não, senhora Milenar. Você tinha uma alternativa, mas adiou para inúmeros anos e cá estamos. Neste mal do século. Na minha geração um beijo era sinal de um casal de apaixonados e era um beijo diferente. Trevo-me a dizer um beijo mais saboroso. Ah, os compositores. Eles sim sabiam transmitir a plenitude de uma música. As notas musicais eram compostas de acordo com o meu momento, elas faziam-me libertar da escuridão decorrente. Queria que eles sentissem o que eu sentir. 

Alguns ainda perseveram na conquista dos ouvintes deste século – alguns nasceram na adolescência da minha geração - tenho orgulho deles. Mas ainda não fazem como antes. É preciso muitas das vezes pegar um tiquinho de inspiração lá trás. Não precisa anotar isso não, anote apenas o necessário. Como se diz hoje faz o resumão e manda aí, ó. Antes tinha uma disputa avassaladora na conquista dos prêmios das academias e outros célebres. Sim, eu me lembro. Ah, como eu lembro bem. Eu me lembro é de tudo. Mas também me lembro da limitação dos telespectadores, repudiaram de muitos deles. Vamos fazer um tricô. Começo com um pouco da linha enrolada no meu dedo indicador e seguro com leveza a agulha na minha destra. No começo sempre é difícil desenrolar, mas sempre conseguimos. Fora difícil para os jesuítas catequizar nossos índios, ah, como foi. Mas continuaram tricotando. 

 Vamos tentar moldar um pouco nosso tricô! Deixe isso com o Arcadismo e suas sínteses ou com a perfeição poética do Parnasianismo? Não não... Prefiro prosseguir com o romantismo. Deve deixar um pouco mais belo meu trabalho. Beleza? A vida nem sempre é bela. vamos tricotá a realidade. Que tal seguir o visual de Nietzsche ou Marx? Muito brusca? E que tal um pouco pensadora e com definições sobre a vida? Acho que Sócrates não responderia minha pergunta, ele me perguntaria outra coisa. Vamos fazer a vida um pouco mais solta e do jeito que ela realmente é. Obrigada modernistas. Meu tricô está ficando moderno. Ah, gerações vividas. Cada um com seu encanto e desencantado. Terra, estou com medo do acabamento do meu tricô. Sabe por quê? Tenho do mal desse século. Não sei como ele acabará. Vou deixar assim, inacabado.

Comentários

  1. Perfeito hein, teu blog me encantou muito, você escreve muito bem flor!
    Obrigada pelo selo

    ResponderExcluir
  2. Obrigada, meninas!
    Os comentários de vocês me fazem cada vez mais fluir *-*

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente, opine, critique.

Postagens mais visitadas deste blog

O quanto é bom amar devagarzinho

Hoje abri a janela com um sorriso no rosto. Você estava deitado em minha cama com um ar de satisfeito-preguiçoso-cafajeste-na falta de um abraço. Eu estava naqueles dias em que tudo é sorriso, tudo é motivo de relembrar os bons momentos do passado e o melhor momento para planejar o futuro. Sentia uma energia tão vibrante dentro de mim que desejava explodir e acender todo o nosso quarto. Misturar a minha energia com a sua. Uma sensação de encaixe. Como se agora eu pudesse ver a figura secreta do quebra-cabeça. Alisei o seu rosto. É engraçado nos questionarmos nessas horas o porquê da demora de encontrar quem nos faz tão bem. Considero essa felicidade como a linha de chegada. Aquela mesma sensação de ter ganho algo que você lutou por tanto tempo e que agora finalmente você pode gritar para todo mundo ouvir o quanto está orgulhoso de si mesmo. O quanto a espera é importante para alcançar algo. Solucionar uma equação perdida entre tantos cálculos, transformar em vírgula aquele ponto deslo...

A garota da balada

Tenho pouco tempo para escrever tudo aquilo que eu vi hoje. Estou dentro de um banheiro de uma balada qualquer. Baladas dessas madrugadas que acabam acontecendo quando você está com os amigos e decidem extravasar. Ok. Tenho que dizer que ela é de estatura baixa, cabelos curtos e da cor preta, olhos moldados por um traço marcante e com lábios, exageradamente, lindos. Ester. Este é o nome fictício que inventei para ela e que agora não sai da minha cabeça. Ester dança como uma profissional, mas que ainda consegue ter a proeza de um gingado de menina. A enxergava em câmera lenta e os jogos de luzes a transformavam uma estrela de sucesso no palco. Ester. Ester. Tinha conseguido chegar perto dela. Cheguei dançando no ritmo do barulho e conseguindo conquistar seus olhos sobre mim. E, por eternos cinco segundos, nos olhamos como um caçador olha sua presa e sabe em qual momento deve atacar. Eu estava sendo a sua presa, ela estava me atacando. Ester ria através de cada movimento, olhares,...

Isabelli e as suas pequenas manias

Cometi dois grandes erros quando conheci Isabelli. Me apaixonei pela sua resposta rápida, seu senso crítico e pela sua independência misturada com a sua beleza natural que me fazia questionar se ela era real ou não. Aqueles cachos que me rendiam um cheiro de casa arrumada e sexo em qualquer hora do dia. Aqueles seus lábios, não tão moldados, mas que me prendiam ao êxtase ao pegá-la mordendo o seu lábio inferior após ouvir uma pergunta chata ao nível do chefe do trabalho. É, Isabelli me rendeu esse primeiro grave erro. O erro dos meus olhos se renderem, da minha vontade aumentar, do meu corpo suar.  O segundo erro foi não considerar sua desculpa esfarrapa de sair mais cedo do barzinho por conta da saúde de sua mãe. Descobri mais tarde que ela mora sozinha e que tinha medo de sair à noite. Isabelli tão erótica me fazia gozar por dentro com o seu andar de uma inocência fingida e com um salto alto de uma mulher. Parecia estar à espera do seu homem ou do homem que corr...