Pular para o conteúdo principal

Jeffrey, ao som de Beethoven.

(Cenas do filme - O Perfume)

       Ao som de Ludwig Van Beethoven  com sua primeira sinfonia – os olhos de Jeffrey percorriam agitados em frente as suas obras primas. Suas mãos pecavam em imitar os movimentos sublimes do compositor, seu rosto parecia navegar em um intenso mar – com movimentos pesados a manuseava assustadoramente em pequenas rotas curvilíneas. Ele sorria do nada. Ele aplaudia para o nada. Ele agradecia para nada. Levantou-se e caminhou lentamente para sua platéia – obras primas – e admirou-as.  As observava como um grande admirador da sua própria arte. – Belíssimo! Belíssimo! – exclamava para si. Percorria com cuidado entre elas, não queria tocá-las naquele estado, para ele, elas estavam perfeitas ao público – Então se ouviu um sussurro ao longe.
Era quase indecifrável o que proferia a outra voz. Ele a olhou. E sinalizou silêncio para a pequena jovem. Ela parecia amedrontada, e mesmo que tentasse se auto controlar, perdeu os sentidos e seu corpo tomava-a para escapar dali.

        Seus olhos percorreram rapidamente todo aquele cenário do grande autor, ela o temia. Via seus semelhantes imobilizados, vitimas de experiências horrorosas e amedrontador para qualquer humano. Seus olhos não conseguiam achar um vestígio de luz natural, seus pés estavam incapazes de fazê-la percorrer naquele quarto. Seu vestido amarrotado se estendia com repugnâncias e uma substância árdua, ela estava cansada, apoiou-se no chão, mas escorreu-se. Sua respiração se tornava cada vez mais ofegante – olhou para suas mãos a procura da resposta de sua pequena queda e se aterrorizou. Elas estavam avermelhadas e minúsculos pedaços negros cobriam sua alva mão branca. Jeffrey parecia não se importar com a tentativa de fuga da moça, ele parecia estender sua atenção para sua platéia imóvel, sem vida, estendidas naquele vão.

        Demonstrava seu nítido interesse sobre elas. Mas então ela gritou. Tampou com suas sujas mãos sua audição e relembrou as apavorantes cenas que a pouco tinham começado. Ele a repreendeu com seu olhar. Ela parecia o ponto cego em meio a sua obra. Então, na memória de Jeffrey, surgiam fragmentos desconcertantes que se estendiam em sua mente, mãos fortes e violentas que o arrancará de sua prematura infância, xingamentos alheios disparados entre seus genitores e agressões sem respostas em seu corpo – sim, ele relembrava. O grito da moça despertou em sua memória o seu próprio grito de horror que tivera passado. Mas, ele não entendia o seu grito – você faz parte da minha obra – pensava. Para ele, ela deveria sentir-se orgulhosa de testemunhar seus belos corpos artísticos sem vida e cobertos com seus próprios vinhos. Despenhava com cautela os mecanismos que davam à vida de seus pequenos zumbis, conectava intrusamente seus corpos uns aos outros, como forma de dá vida a seres inanimados e ordena-los a seguir sua cena teatral. A carnificina para ele teria outro nome, e a moça não explicaria o real sentido da palavra.

        Seus cabelos estavam úmidos, sua boca estava seca. Mãos cansadas e pés entregues caracterizava a moça. Ela se rastejava pelas paredes negras e sujas na tentativa de uma saída. Suas mãos sentiam a escoria maldita sobre as paredes, mas aquilo não a importava mais. Achou uma pequena depressão. É a saída, pensou. – É bom experimentar coisas novas, mocinha – sussurrou o inha. Seus cabelos foram às cordas para sua ida ao centro do espetáculo. Sua pele se destacava entre os demais. Eles estavam no destaque de pequenos vermes – irônico – esta seria a tradução do vermelho, da cor do sangue. – Dê o grito do seu espetáculo! DÊ! – ordenou. Sirenes policiais eram ouvidas ao fundo.
- Por... Por quê? – apenas perguntou. – Por que sou um artista. – golpeou-a. 

Comentários

  1. Entre as melhores que já li! Consegue cativar. Seguindo :)

    ResponderExcluir
  2. Felicidade de vim aqui no teu blog e ler textos como estes.Volatrei sempre que puder.Beijos.

    ResponderExcluir
  3. Oi Arianne,
    que texto pesado, intenso...
    Bjkas e um ótimo 2011 para vc.

    http://gostodistonew.blogspot.com/

    ResponderExcluir
  4. Poxa, que blog lindo *-*
    amei tudo por aqui! *-*
    Que 2011 traga mais cores pra tua vida :D

    ResponderExcluir
  5. nossa Arih, sanguinolento e extremamente surpreendente. parabéns. Raíssa, smileonly-now.blogspot.com *-* beijiinho:**

    ResponderExcluir
  6. haha. obrigada.
    seu conto também está maravilhoso *-*

    ResponderExcluir
  7. já tá me seguindo? ruun
    HSHAHSAHSUH beeeijos

    ResponderExcluir
  8. conterranêa (L)

    sou do interior de PE, caruaru, mas vou para o recife amanhã, álias, vou pro janga que é em paulista.

    muito bom conhece-la viu?
    muito bom mesmo. apareça sempre por lá, e pode deixar que vou aparecer por aqui.
    tô seguiiindo

    um beeijo grande

    ResponderExcluir
  9. Encontrei vc na comunidade "pós-futurismo" e desde já digo que adorei o seu estilo de escrita e, como assisti um pouco do filme, adorei a descrição de uma cena do mesmo. Enfim, estou seguindo, beijos :*

    ResponderExcluir
  10. Olá,boa noite,,vim conhecer teu espaço e agradecer tua visita
    Bj.

    ResponderExcluir
  11. Um blog bem feito e textos bem feitos, esse realmente está muito bom, especialmente o desfecho, o jeito que você usa para descrever a personagem também é gracioso, parabéns!

    ResponderExcluir
  12. Olá, passei pra avisar que tem selinhos pra você no meu blog, espero que goste.

    > http://myimmortal-jb.blogspot.com/p/selos.html

    ResponderExcluir
  13. Gostei muito! Tem como um dos fios condutores um compositor que adoro, Beethoven! :D

    ResponderExcluir
  14. Epifania é uma palavra que atrai, e atrai muito!
    Adorei o blog, estou seguindo...
    E este texto! Literalmente, uma epifania.
    Amei!

    ResponderExcluir
  15. Primeiramente, fiquei honrado por teres me escolhido entre os cinco melhores do ano. Você não faz idéia como.

    Segundo, cada da que se passa sua escrita me encanta mais. Seus textos estão cada vez melhores.

    Beijos

    ResponderExcluir
  16. Muito interessante seu texto,e a foto do filme Pergume me despertou curiosidade de ver o filme,ainda não vi! rs

    Obrigado pela visita lá no blog,e feliz 2011 o/

    Beijos

    ResponderExcluir
  17. UHUHAUHSUAHSA. Este conto não tem nada a ver com o filme O Perfume, apenas achei que o protagonista se encaixaria com este conto. XD

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente, opine, critique.

Postagens mais visitadas deste blog

A garota da balada

Tenho pouco tempo para escrever tudo aquilo que eu vi hoje. Estou dentro de um banheiro de uma balada qualquer. Baladas dessas madrugadas que acabam acontecendo quando você está com os amigos e decidem extravasar. Ok. Tenho que dizer que ela é de estatura baixa, cabelos curtos e da cor preta, olhos moldados por um traço marcante e com lábios, exageradamente, lindos. Ester. Este é o nome fictício que inventei para ela e que agora não sai da minha cabeça. Ester dança como uma profissional, mas que ainda consegue ter a proeza de um gingado de menina. A enxergava em câmera lenta e os jogos de luzes a transformavam uma estrela de sucesso no palco. Ester. Ester. Tinha conseguido chegar perto dela. Cheguei dançando no ritmo do barulho e conseguindo conquistar seus olhos sobre mim. E, por eternos cinco segundos, nos olhamos como um caçador olha sua presa e sabe em qual momento deve atacar. Eu estava sendo a sua presa, ela estava me atacando. Ester ria através de cada movimento, olhares,...

A nossa história.

(  Acompanhe :   Prólogo   -   Capítulo I  -   Capítulo II ) O ENCONTRO . Naquele dia, ela acordou com uma vontade enorme de sentir-se amada. Estava cansada do lado da cama vazia e não ter ninguém para beijar no dia 12 de junho. Então, ela se arrumou como nunca antes. Escolheu seu melhor vestido, provocou no seu batom e caprichou no olhar, escolheu aquele salto que valorizava suas pernas e soltou os cabelos. Quando se olhou no espelho, se auto admirou. Que tipo de princesa a donzela teria se transformado? Sairia feliz e convicta que estava armada como um cupido do amor. Ela queria um parceiro que a dissesse que a amava e que a queria por toda vida. Passou por tantos pretendentes, mas nenhum a fazia sentir aquele toque de entusiasmo  (borboletas voando dentro da barriga) dentro do coração. Ele, o coração, palpitava cheio de energia quando um suposto príncipe a olhava e chamava para beber, mas no fundo tudo seria passageiro. Ela queria um que dura...

O quanto é bom amar devagarzinho

Hoje abri a janela com um sorriso no rosto. Você estava deitado em minha cama com um ar de satisfeito-preguiçoso-cafajeste-na falta de um abraço. Eu estava naqueles dias em que tudo é sorriso, tudo é motivo de relembrar os bons momentos do passado e o melhor momento para planejar o futuro. Sentia uma energia tão vibrante dentro de mim que desejava explodir e acender todo o nosso quarto. Misturar a minha energia com a sua. Uma sensação de encaixe. Como se agora eu pudesse ver a figura secreta do quebra-cabeça. Alisei o seu rosto. É engraçado nos questionarmos nessas horas o porquê da demora de encontrar quem nos faz tão bem. Considero essa felicidade como a linha de chegada. Aquela mesma sensação de ter ganho algo que você lutou por tanto tempo e que agora finalmente você pode gritar para todo mundo ouvir o quanto está orgulhoso de si mesmo. O quanto a espera é importante para alcançar algo. Solucionar uma equação perdida entre tantos cálculos, transformar em vírgula aquele ponto deslo...